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A leitura da Bíblia

  • 05 AGO 2022
  • Emilson dos Reis
  • 257

Por que ler a Bíblia? Há um texto escrito pelo apóstolo Paulo ao jovem pastor Timóteo que apresenta uma resposta inspirada para essa pergunta. Ele diz: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:14-17).

Bons motivos para a leitura da Bíblia

Este texto bíblico destaca vários bons motivos para lermos a Bíblia. O primeiro deles é que ela é formada por escritos sagrados. Paulo os chama de “sagradas letras”. A expressão “sagrado” ou “santo”, refere-se aquilo que é separado para um uso especial nos planos de Deus.

Em segundo lugar, devemos ler a Bíblia porque ela nos conduz à salvação. Depois de apontar para a nossa condição de pessoas perdidas, condenadas, debaixo da ira de Deus e indo de mal a pior, rumando para a morte eterna (Rm 3:10-18, 23; 8:5-8, 13), ela nos revela o amor de Deus e o que Ele tem feito para nos salvar (Jo 3:16) e aponta para Cristo (Jo 5:39) – o único Salvador (At 4:12).

Outra boa razão para lermos a Bíblia é que ela se origina em Deus. Ele é o seu verdadeiro autor. Esse é o significado da declaração: “Toda a Escritura é inspirada por Deus”. Mas Ele Se valeu  de homens para a escreverem. Eles foram escolhidos e preparados para essa missão e, embora respeitando o estilo e vocabulário de cada um deles, o Espírito de Deus os influenciou sobrenaturalmente, garantindo que a verdade fosse registrada de maneira confiável. Por isso a Bíblia é fidedigna e autoritária.

Além disso, a Bíblia é muito útil como padrão de vida. Em um mundo pós-moderno e relativista onde impera uma cultura que tende a nos distanciar de Deus e de Seus caminhos, você precisa ter um padrão que defina o que é certo e o que é errado, e esse padrão é a Bíblia. Ela é nosso padrão tanto no que respeita às nossas crenças quanto à nossa conduta. Ao destacar esse aspecto, Paulo usa quatro palavras que merecem consideração, sendo que duas se referem ao que cremos e duas, ao nosso procedimento. São elas: ensino, repreensão, correção e educação. A Bíblia é útil para o ensino porque nos diz quais são as crenças corretas, aquelas que são verdadeiras e têm a chancela do céu. É útil para a correção porque corrige quanto a doutrinas e crenças falsas que alguém possa ter. Seus ensinos, quando observados, nos reconduzem para o caminho certo.

Mas a Bíblia é um padrão não apenas quanto às crenças, também quanto ao nosso comportamento. Assim, ela é útil para a educação na justiça porque mostra como devemos nos comportar e nos conduz de modo a permanecermos no caminho certo. E, ainda, a Bíblia é útil para a repreensão porque aponta os erros de nossa conduta. Ela declara aquilo que desagrada a Deus e que nos afasta do caminho da vida e felicidade. Seu propósito é convencer o homem de seu erro e colocá-lo no caminho correto.

Ainda, devemos ler a Bíblia porque ela é um instrumento de Deus para operar mudanças em nossa vida. Por sua bendita influência vamos nos tornando pessoas melhores: melhores filhos e melhores pais, melhores maridos e melhores esposas; melhores amigos e melhores irmãos. Seus ensinos afetam o nosso ser de modo que vamos nos tornando cada vez mais parecidos com Jesus. Mas seus ensinos afetam também o nosso fazer. Por seu intermédio somos perfeitamente habilitados para toda boa obra, adequados para o uso que Deus quer fazer de nós. Nos tornamos melhores obreiros e melhores cristãos, não importa qual seja o nosso dom e o nosso ministério. Em suma, a Bíblia nos capacita a viver de modo agradável a Deus e a realizar com êxito a Sua obra.

Sugestões para a leitura da Bíblia

Para ler a Bíblia com maior proveito, atente para as seguintes sugestões:

Escolha a Bíblia que você vai usar, lembrando que há Bíblias que contêm apenas o texto sagrado e há aquelas que são Bíblias de estudo e que, por isso, além do texto sagrado, contêm outras informações que ajudam em sua compreensão. Em qualquer caso,  atente primeiro para o texto bíblico. Algumas boas traduções são: Almeida Revista e Atualizada, 2ª edição; Nova Almeida Atualizada; Nova Versão Internacional e Nova Versão Transformadora. As Bíblias de estudo possuem recursos que visam a ajudar o leitor no entendimento de sua mensagem, tais como: referências a passagens com coteúdo paralelo, comentários, mapas, diagramas, tabelas de pesos e medidas, cronologias de reis e profetas, chave bíblica e dicionário bíblico. Com relação às Bíblias de Estudo, há a Bíblia de Estudo da Andrews, a King James, a de Genebra, a Bíblia Thompson, a Bíblia Anotada (Expandida), a Bíblia Shedd e outras mais.

Não deixe para ler a Bíblia apenas se e quando der vontade. Pense! Ore! Planeje! Decida! Estabeleça um horário determinado para diariamente dedicar-se à leitura da Bíblia. Um período de tempo em que você possa se desligar de tudo e concentrar-se em ouvir a voz de Deus. Se for possível, que seja no início do dia, quando a mente está descansada e compreende  e absorve tudo com mais facilidade. Escolha também o ambiente, a sala, o quarto ou outro aposento que lhe seja favorável.

Antes da leitura, ore para que o mesmo Espírito que inspirou os profetas e apóstolos a escreverem a Palavra esteja ilumunando sua mente para que você a entenda. Observe o que Ellen White escreveu sobre isso: “Sem a ajuda do Espírito Santo, porém, estamos continuamente sujeitos a torcer as Escrituras ou a interpretá-las mal. Muitas vezes a leitura da Bíblia fica sem proveito, e em muitos casos é mesmo nociva. Quando se abre a Palavra de Deus sem reverência nem oração; quando os pensamentos e afeições não se concentram em Deus, ou não se acham em harmonia com Sua vontade, a mente fica obscurecida por dúvidas; e o ceticismo se robustece com o próprio estudo da Bíblia”.[1] 

Lembre-se que cada livro bíblico é um texto corrido e não permita que as divisões em capítulos ou versículos dificultem sua compreensão. Considere que nenhum escritor bíblico dividiu seu escrito em capítulos e versículos. A Bíblia já estava totalmente escrita por volta do ano 100 da nossa era, mas foi apenas lá pelo ano 1200 que dividiram seus livros em capítulos e trezentos e cinquenta anos depois dividiram os capítulos em versículos, como os encontramos hoje em nossas Bíblias. Essas divisões são úteis porque facilitam encontrarmos rapidamente os textos que estamos ouvindo no sermão ou lendo em alguma obra. Contudo, elas podem nos atrapalhar quando lemos a Bíblia, porque alguns imaginam que o próximo capítulo ou o verso seguinte são coisas novas, sem vínculo com o que acabamos de ler. Assim, leia a Bíblia como um texto corrido, ou seja, considere cada informação como verdadeira dentro do seu contexto.

Pondere que a Bíblia ensina apenas uma teologia. Embora haja vários escritores, por traz de cada um deles encontra-se o verdadeiro autor que é o Espírito Santo (2Pe 1:20-21), o que garante que não há diferença doutrinária entre um livro e outro das Escrituras, pois o Espírito não pode contradizer a Si mesmo. Assim, qualquer contradição é apenas aparente e existe porque no momento nos falta alguma informação.

A Bíblia deve ser encarada como literal, a menos que fique evidente que determinada porção não é literal, mas simbólica ou figurativa. Se esse for o caso, deixe a Bíblia interpretar a própria Bíblia. Não podemos soltar a imaginação e inventar significados. Assim, um texto que parece obscuro será iluminado por outro texto que trate do mesmo assunto com maior clareza. Às vezes, também, um simples exame de outra tradução da Bíblia pode ajudar.

Considere que se queremos saber o que a Bíblia ensina sobre determinado assunto, precisamos examinar todos os textos que tratam do mesmo e não focarmos em apenas um versículo isolado. Por quê? Para evitar que o entendimento errado de um único texto ocasione grave prejuízo espiritual. É por essa razão que as doutrinas bíblicas são baseadas na totalidade das passagens que tratam do tema, e não em algum texto isolado.

Ao ler a Bíblia, leve em conta o contexto histórico, pois ele diz respeito às circunstâncias em que se encontravam o escritor e aqueles que foram os primeiros destinatários do escrito. Deve-se buscar respostas para as seguintes perguntas: Quem escreveu? Em que tempo e lugar escreveu? A quem escreveu? Qual a razão do escrito? As Bíblias de estudo costumam trazer essas informações.

Esteja, também, disposto a aceitar coisas novas, mesmo que conflitem com suas ideias anteriores. Em outras palavras, examine a Bíblia para descobrir o que Deus tem a dizer e não apenas para encontrar versos que confirmem suas ideias.

Métodos para a leitura da Bíblia

Para tirar bom proveito da Bíblia Sagrada, devemos manuseá-la não sem propósito, casualmente, mas, sim, com um plano definido de estudo. Eis algumas sugestões:

Leitura diária e contínua de toda a Bíblia. Começa-se em Gn 1:1 e lê-se 3 a 4 capítulos por dia, até Ap 22:21, o que ocorrerá no período de um ano. Este método é chamado de “ano bíblico” e é a forma mais simples de se estudar a Bíblia. Sua vantagem é proporcionar uma visão abarcante da Bíblia.

Análise da mensagem de um livro Bíblico. É um estudo com profundidade de algum livro bíblico de nosso interesse, fazendo uso das ferramentas disponíveis: dicionários, enciclopédias e comentários bíblicos etc. Busca-se conhecer a autoria, a data, a estrutura, o objetivo, a mensagem central, a interpretação e as aplicações do livro.

Estudo que busque a solução bíblica para um problema específico. Quando há um problema que envolve aspectos espirituais, seja ele particular ou comunitário, podemos investigar a Bíblia com a ajuda de uma Concordância Bíblica a fim de encontrar uma resposta de Deus. 

Estudo por palavra. Escolhemos uma única palavra e procuramos descobrir seu significado. Por exemplo: Graça, ou fé, ou benignidade. Para tanto é melhor começar verificando o que dizem os dicionários que tratam da tal palavra na língua original. Depois, com a ajuda de uma concordância bíblica, examinamos os textos bíblicos onde ela aparece e o uso que é feito no respectivo contexto. A busca em dicionários bíblicos e comentários bíblicos também é valiosa.

Estudo de um tópico. Escolhe-se um assunto e busca-se a instrução que a Bíblia dá a respeito. Neste caso, estão envolvidas várias palavras, e não apenas uma, como no item anterior. Assim, se alguém quiser pesquisar o que a Bíblia ensina sobre saúde, deverá abarcar, em seu estudo, as palavras “corpo”, “alimento”, “comer”, “beber”, etc.

Estudo biográfico. Neste caso a intenção é conhecer a história de um personagem bíblico e descobrir como Deus atuou em sua vida e encontrar lições espirituais que nos abençoem. Exs: Davi, Paulo, Moisés. É necessário examinar uma concordância bíblica. O uso de dicionários ou enciclopédias bíblicas e o comentário de textos pertinentes, também serão de grande proveito.

Deste modo, verificamos que temos várias possibilidades de nos relacionar com a Palavra de Deus e crescer espiritualmente. Podemos escolher seguir um método e, então, quando alcançarmos nosso objetivo, decidir por uma nova abordagem, lembrando que uma vez que a Escritura tem sua origem em Deus e é a espada na mão do Espírito para operar nossa transformação, devemos encará-la como autoritária e digna de toda a confiança e muito útil para nos conduzir no bom caminho, aquele que leva à vida eterna.[2]

 

[1] Ellen G. White, Caminho a Cristo, 28ª ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 110.

[2] Para um aprofundamento no que foi exposto neste artigo, consultar Emilson dos Reis, Introdução geral à Bíblia: da revelação até os dias de hoje, 4ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016), 175 págs.

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