Daniel e a liberdade religiosa 01 OUT 2021 Hernani Junior 403 Liberdade religiosa é um tema de muita importância em nossos dias. Na verdade sempre foi, mas hoje tem se tornado necessário abordarmos este tema. Já quero iniciar trazendo o conceito de liberdade religiosa. Popularmente, a liberdade religiosa é vista da seguinte forma: Na mídia, a liberdade religiosa é descrita como o direito de não participar de maneira alguma de casamentos homossexuais, ou o direito de não pagar por um seguro que cobre qualquer parte do processo de aborto ou medidas anticoncepcionais. (Fonte Google) Por esta situação podemos perceber que o senso do que significa liberdade religiosa está muito raso, muito efêmero do que realmente é. Mas o que seria de fato liberdade religiosa? Vejamos esta definição: "Liberdade Religiosa é o direito que uma pessoa tem de professar, praticar, e propagar a sua fé, ou a falta dela. É o direito de transmitir sua fé a seus filhos ou às pessoas que foram confiadas ao seu cuidado. É o direito de usar símbolos, e de mostrá-los em lugares públicos. É o direito de construir instituições de maneira que sejam uma expressão de suas crenças; instituições essas que são destinadas a promover as convicções, a cosmovisão e os valores de uma pessoa." (Fonte: Ganoune Diop, Ph.D. Diretor de Relações Públicas e Liberdade Religiosa, Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia) Assim, todo que professa uma religião deveria sim defender a liberdade religiosa. Pois é seu direto de manifestar sua fé. Convido você agora a ir comigo no livro de Daniel para identificarmos como a liberdade religiosa nos é apresentada. O livro deste profeta é datado de 605 A.C. e nos relata sobre o cativeiro que Babilônica, liderada pelo rei Nabucodonosor trouxe a Judá, que era liderada por Jeoaquim. Podemos perceber que já no início do livro nos é apresentado um conflito além de territorial, entendemos que existe uma disputa entre Nabucodonosor e Deus. Assim, existe uma guerra que envolve religião e poder. Vamos até o capítulo 6 do livro. Já quero lhe adiantar que este capítulo se encontra em paralelo com o capítulo 3 do mesmo livro. As ligações são por palavras ou situações. Vejamos como inicia o capítulo 6:1. "Dario decidiu constituir (levantar) cento e vinte sátrapas, para que administrassem todo o seu reino.” O rei Dario, assumiu o controle próximo ao ano 539 A.C. e assim, decide governar a recém conquistada Babel através de conselheiros ou governares locais. O interessante é que o mesmo verbo usado no capitulo 6:1, “constituir", também pode ser traduzido como “levantar”, “erigir”. Ele esta claramente levantando, constituído uma “imagem” ou posição de autoridade para demostrar poder para governar. O texto ainda vai dizer que ele vai fazer isso "para que o rei não tivesse nenhum prejuízo” no verso 2. Existe um forte ligação entre as palavras usadas nos primeiro versos do capítulo 6 e nos primeiros versos do capítulo 3. Vejamos esta ligação: "O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha vinte e sete metros de altura e dois metros e setenta de largura, que ele levantou na planície de Dura, na província da Babilônia.” Daniel 3:1 Aqui, o rei Nabucodonosor levanta essa estátua como um símbolo de autoridade. O pastor e Professor Jacques B. Doukhan, em seu livro intitulado “Os segredos de Daniel”nos afirma que, achados arqueológicos revelam que nos anos de 595 - 594 A.C. foram encontradas evidências de uma possível insurreição. Isso levou o rei Nabucodonosor a levantar essa estátua como símbolo de sua autoridade e reino. Podemos perceber assim que ambos os relatos afirmam que esses reis “levantam”símbolos para confirmar sua autoridade. Em Daniel, capítulo 6, nos é informado que o rei, assediado por seus conselheiros, emite um “decreto" onde ninguém poderia “orar" (ação ligada a religião) a nenhum outro ser, a não ser ao próprio rei. Se alguém quebrasse o decreto, seria lançado na cova dos leões, para a morte. Daniel 6:6-8. Em paralelo, no capítulo 3, o rei também emite um "decreto" onde quem não se “ajoelhasse”(ação voltada para adoração) diante da estátua quando os instrumentos fossem tocados, seria jogado na fornalha de fogo, para a morte. Ambos os capítulos apontam pra ações que prefiguram manifestações ligadas a adoração, a religião para uma aceitação politica. Perceba que no capítulo 3, ao adorar a estátua, aceita ao Estado. Já no capítulo 6, ao obedecer a lei do Estado, subjuga a religião. Em Daniel 3 a religião parece ser maior que o Estado. Em Daniel 6, o Estado é maior que a religião. Ambos os reinos, tanto Babilônia quanto o Medo-Persa, são reinos politico-religiosos. A religião faz parte do governo e é utilizada para oprimir. Sendo assim, qual seria o melhor cenário para nós hoje? Seria um cenário onde a Igreja é maior que o Estado? Ou um cenário onde o Estado é maior que a Igreja? Certamente nenhum dos dois cenários são ideias para quem defende liberdade religiosa, ambos não contemplam essa liberdade. A religião não deve ser imposta. Não podemos nem devemos apoiar que o Estado defenda uma religião ou que a religião monte sobre o Estado. É necessário que todos tenham liberdade para pregar suas crenças. Perceba meu querido leitor, Jesus não defendeu esta união. Jesus Cristo hoje utiliza de diversos caminhos para nos buscar e entre eles, a religiosidade. Nossa decisão de qual religião seguir precisa vir de uma escolha livre e não de uma imposição estatal. Veja esta citação do livro “A Ciência do Bom Viver” página 242, que diz: “Não é desígnio de Deus que nenhuma criatura humana submeta a mente e a vontade ao domínio de outra, tornando-se um instrumento passivo em suas mãos. Ninguém deve fundir sua individualidade na de outrem. Não deve considerar nenhum ser humano como fonte de cura. Sua confiança deve estar em Deus. Na dignidade da varonilidade que lhe foi dada pelo Senhor, deve ser por Ele próprio dirigido, e não por nenhuma inteligência humana.” Sua escolha deve ser uma escolha livre! Somos a imagem de Deus e não devemos nos deixar ser controlados como marionetes a escolher uma fé. Somos livres. Veja o que diz este texto que se encontra no evangelho de João capítulo 8, verso 35: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” Sejamos libertados por Jesus e não presos a Ele por decisão de outros que desejam manipular a fé e a religião.