Fé na juventude 18 NOV 2022 Wendel Lima 237 Nos últimos 85 anos, a Igreja Adventista do Sétimo Dia procurou publicar com regularidade uma revista para os jovens no Brasil. É verdade que essa história foi marcada ora por períodos mais longos e ora por períodos mais curtos de descontinuidade. Contudo, o esforço da denominação para se comunicar com as novas gerações sempre ocorreu. Primeiramente foi com a revista Juventude (1936-1940), depois com a Mocidade (1958-1994), Superamigo (1994-1998), Conexão JA (2007-jun.2012) e, mais recentemente, com a Conexão 2.0 (jul. 2012-jan. 2022), que foi descontinuada no início do ano. Tive o privilégio de ajudar a pautar e escrever 11 anos dessa longa trajetória de revistas para jovens adventistas no Brasil, como editor da Conexão JA e Conexão 2.0, quando trabalhei na Casa Publicadora Brasileira (CPB). Pelo fato de exercer essa função, ler um pouco sobre o comportamento da juventude e observar os discursos religiosos que são elaborados sobre os jovens, cheguei a ponderar algumas questões, longe ainda de serem conclusivas. Corremos dois riscos ao elaborarmos um discurso sobre e para os jovens: divinizar e demonizar a juventude. Divinizar significa supervalorizar a inovação, o tempo presente, a beleza e a vitalidade, em detrimento da tradição, do passado, da experiência e sabedoria acumuladas. Por outro lado, demonizar é uma tentação fácil, principalmente para as gerações mais velhas que lideram instituições sociais como a igreja, a escola e o Estado. Os mais experientes costumam ter um discurso pronto para os jovens, mostrando o que a juventude precisa fazer e evitar para se adequar a um sistema de códigos construído e legitimado pelos mais velhos. Essa tensão intergeracional não é de hoje, mas tem sido intensificada pelas rápidas e profundas mudanças do nosso tempo. O ponto é que os mais experientes têm muito a contribuir com a formação dos jovens, pois possuem uma visão mais ampla e equilibrada da vida; porém, a juventude também tem muito a dizer sobre os “pontos cegos” das gerações anteriores e a respeito do que sonham para o próprio futuro. Equilibrar de modo criativo e produtivo essas tensões é um desafio para empresas, organizações, partidos políticos, escolas e igrejas. No caso das igrejas dos três campi do UNASP, que reúnem milhares de adoradores de várias gerações sob o mesmo teto a cada sábado, talvez esse desafio seja ainda mais evidente. Contudo, para além da experiência de culto, é preciso pensar como nossas comunidades podem ser mais acolhedoras e impulsionadoras do desenvolvimento espiritual dos nossos adolescentes e jovens. E tudo isso sem cair no erro de esperar que a juventude atual apenas receba a fé adventista como uma herança que será mantida inalterada. Para não nos frustarmos, é preciso reconhecermos que não existe, necessariamente, uma geração melhor do que a outra ou um tempo em que o adventismo foi vivido de modo exemplar. Cada geração é protagonista do processo de continuidade, ruptura e ressignificação da mensagem e esperança que compartilhamos como tradição religiosa. E assim será até que Cristo volte para reunir seus filhos e filhas de todas as gerações. Portanto, creio que vale a pena termos fé na juventude! Para saber mais: Sobre a história das revistas adventistas voltadas para jovens no Brasil, acesse este verbete em inglês da ESDA (Encyclopedia of Seventh-day Adventists). Sobre a versão original desse texto, publicada como o editorial da revista Conexão 2.0 de janeiro-março de 2019, acesse aqui.