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Liberdade e Reforma

  • 08 NOV 2021
  • Hernani Junior
  • 142

"Mas Pedro e João responderam: — Os senhores mesmos julguem se é justo diante de Deus ouvirmos antes aos senhores do que a Deus”. Atos 4:19

 

 O contexto imediato do texto acima é a cura de um aleijado que ficava na porta do templo chamado “Formosa”. De acordo com o verso 22 do mesmo capítulo, esse homem tinha 40 anos. Devido a abrangência do ocorrido, grande multidão se apegou aos discípulos Pedro e João. Com isso, os escribas e fariseus (líderes religiosos da época) acionaram as autoridades locais para que resolvessem esse tipo de manifestação em massa que, segundo eles, esses dois pregadores estavam causando. Acontece que ambos os apóstolos foram presos. Depois que as autoridades perceberam que não havia outro motivo a não ser a “inveja”, resolveram libertá-los com suas preocupações e ressalvas:

 "Mas, para que não haja maior divulgação entre o povo, vamos ameaçá-los para não falarem mais neste nome a quem quer que seja. Chamando-os, ordenaram-lhes que de modo nenhum falassem nem ensinassem no nome de Jesus”. Atos 4:17-18

 Estes foram soltos e instruídos a não mais pregarem ou ensinarem sobre este Jesus. 

 "Mas Pedro e João responderam: — Os senhores mesmos julguem se é justo diante de Deus ouvirmos antes aos senhores do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.” Atos 4:19-20

 Podemos perceber que a resposta destes homens nada tem a ver com suas opiniões a respeito da vida ou estado da sociedade. Não tem a ver com o que a economia da época oferecia ou mesmo com os resultados das iniciativas do estado/império, mas sim com a divulgação da religião que estavam defendendo e com o testemunho que estavam dando.

 Quero analisar alguns pontos sobre uma rápida reflexão sobre esse texto. Vejamos:

1º - A proposta de uma restrição de liberdade religiosa não vem do governo, mas da igreja. No relato citado, não é Roma que está incomodada com as pregações dos apóstolos sobre Jesus, mas os próprios líderes religiosos. Eles não querem que este tipo de testemunho e ensino seja propagado, então para isso, não buscam um diálogo, mas pedem ajuda ao Estado para que a doutrina ensinada pelos dois apóstolos seja silenciada. Esse acontecido pode ser classificado como um ataque sobre a liberdade religiosa. Enquanto muitos estão esperando que um decreto estatal impeça que a liberdade religiosa continue existindo, a iniciativa para que este seja acatado vem da própria religião. Isso não é novo à história da igreja. No período em que Lutero escrevia suas reflexões e estudos sobre a interpretação da Bíblia, a igreja católica se afiliou ao estado para que seus ensinos fossem proibidos por todo reino e apenas o ensino católico fosse aceito. E quantos outros não passaram pela mesma situação? Antes e depois de Lutero tivemos Wycliffe na Inglaterra, João Huss, Jeronimo em Praga, Zuínglio na Suíça, Berquin na França, Calvino em Paris, Menno Simons nos países baixos, Tausen na Dinamarca, Olavo e Lourenço Petri na Suécia e muitos outros que foram ameaçados pelo Estado, por orientação da intolerante igreja. E por que isso? Porque a igreja não queria "concorrentes" no ensino religioso e assim, deu a mão para o Estado pedindo que o mesmo interferisse e que não permitisse outro evangelho se não o dela.

 Meu amado leitor, não devemos ter medo das decisões estatais, mas devemos temer sim, quando a igreja, seja ela qual for, se afilia ao estado pedindo sua ajuda se colocando como sua conselheira espiritual. Nós, que defendemos a fé em Jesus Cristo e na Bíblia Sagrada não deveríamos nos manifestar apoiando nenhuma forma de controle político. Devemos orar por todo poder colocado no comando, mas não defender seus ideais. Não apoiamos o governo por defender os ideais que a Bíblia apresenta, deveria ser o inverso, o governo apoiar os ideais que a igreja apresenta.

 Dentro do estado existem leis e orçamento para o auxílio social da comunidade. Não existe pecado em usarmos esses recursos para abençoar a comunidade onde a igreja está inserida. A questão é quando pedimos exclusividade para o estado no uso destes direitos que temos como cidadãos.

2º - O motivador para se ter uma religião apoiada pelo estado é a inveja. No texto base deste pequeno artigo encontramos que a motivação para que não preguem mais. Não é a doutrina fraca ou não bíblica, mas a perda de membros e atenção do povo. Os escribas e fariseus estavam incomodados com a ideia de estarem perdendo relevância na sociedade por conta da “nova mensagem” que os apóstolos estavam pregando. O próprio Cristo não estabeleceu um nome para sua igreja quando esteve aqui na terra, Ele não fez isso! Veja que interessante este relato que se encontra em Marcos 9:38-41:

 “Mestre”, disse João, “vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedí-lo, porque ele não era um dos nossos.“Não o impeçam”, disse Jesus. “Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós, está a nosso favor. Eu lhes digo a verdade: Quem lhes der um copo de água em meu nome, por vocês pertencerem a Cristo, de modo nenhum perderá a sua recompensa”

 Veja que Jesus não condena este homem por não andar com Ele, ao contrário disso, motiva os discípulos que o deixem fazer a obra que foi posta no coração dele. João até tenta silenciá-lo, mas Jesus o repreende dizendo: deixe-o, não o impeçam”. Sendo assim, não devemos disputar espaço com as igrejas que existem por aí. Devemos sim fazer nossa parte em pregar o evangelho. Não deveria existir disputa ou concorrência entre igrejas, mas cada uma viver segundo a missão que recebeu de Deus. Não deveríamos pregar olhando para dentro das outras igrejas, mas sim, olhando para tantas pessoas que estão sofrendo sem Jesus na vida.

 No mundo atual somos convidados a ter a mesma atitude dos príncipes diante do Imperador Carlos V na dieta de Espira em 1529 que quando tiveram sua liberdade religiosa colocada em jogo, disseram:

“Protestamos pelos que se acham presentes, perante Deus nosso único Criador, Mantenedor, Redentor e Salvador, e que um dia será nosso juíz, bem como perante todos os homens e todas as criaturas, que nós, por nós e pelo nosso povo, não concordamos de maneira alguma com o decreto proposto, nem aderimos ao mesmo em tudo que seja contrário a Deus, à Sua Santa Palavra, ao nosso direito de consciência, à salvação de nossa alma.” O Grande Conflito, pág. 98.

 Hoje, assim como no passado, não apoiamos ou defendemos um tipo de governo, senão o celeste. Não buscamos refúgio em nenhuma autoridade estatal para dar algum tipo de vantagem sobre outras religiões ou mesmo autoridade para julgar civilmente o que seja certo ou errado a não ser baseados na Palavra de Deus. A única lei a qual nos apegamos de todo o coração é a de Deus e ela está acima de qualquer lei que homens cunhem. Veja este texto maravilhoso:

"A Palavra de Deus precisa ser reconhecida como estando acima de toda a legislação humana. Um “Assim diz o Senhor”, não deve ser posto à margem por um “Assim diz a igreja”, ou um “Assim diz o Estado”. A coroa de Cristo tem de ser erguida acima dos diademas de potentados terrestres.” Obreiros Evangélicos, pág. 390.

 Sei que dias difíceis virão, assim como vieram para os apóstolos e os demais reformadores depois deles, mas quero encerrar com um texto maravilhoso das Santas Escrituras:

"Então Pedro e os demais apóstolos afirmaram: — É mais importante obedecer a Deus do que aos homens.” Atos 5:29.

 Que nestes dias difíceis, nossa fé seja renovada e nosso foco afinado para a pregação do Evangelho e menos para apoios estatais.

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