Artigo

blog

Virtus in Medium Est – Música Sacra e Equilíbrio

  • 11 AGO 2022
  • Samuel Krähenbühl
  • 776

“Meu Filho, guarde consigo a sensatez e o equilíbrio, nunca os perca de vista;”

Provérbios 3:21

 

            Na engenharia civil temos dois instrumentos essenciais, cuja origem remonta o início da civilização, segundo os dicionários: O Prumo e o Nível. Sem eles fica praticamente impossível construir desde um muro, uma casa e até um prédio. Por um simples motivo. Eles indicam onde está o equilíbrio, essencial para estabilidade de uma construção. Mas o que seria equilíbrio?

            Na física, um corpo vai estar em equilíbrio quando a somatória de todas as forças que atuam sobre ele for nula, ou seja, igual a zero. E, de acordo com a Primeira Lei de Newton, o corpo permanecerá em estado de repouso ou em movimento retilíneo uniforme. Dessa forma teremos dois tipos de equilíbrio: Estático, quando o objeto está em repouso, e Dinâmico, quando o corpo está em movimento retilíneo uniforme.[1]

            Nas artes em geral o equilíbrio se faz presente também nas formas e estruturas de diferentes maneiras. Uma das mais interessantes é a proporção áurea. Na pintura e no design moderno essa regra se aplica de forma que toda composição tende ao equilíbrio quando a parte mais “pesada”, “escura” ou “maior” estiverem no terço inferior da figura. Esse conceito também é utilizado na música. O conceito de equilíbrio e simetria mais presente nela talvez seja o do eixo por espelhamento, quando acontece uma imitação exatamente pelas suas metades. Seja uma imitação retrógrada, invertida, ou retrógrada invertida, amplamente utilizado por J. S. Bach no sec. XVIII ou por Schoenberg no modernismo do sec. XX.

            Mesmo analisando a música pelo mundo da física podemos ver presente o equilíbrio. As moléculas do ar estão em repouso até que um corpo vibratório as agita e através do movimento organizado entre compressão e expansão do ar os sons são produzidos. Desta forma, saímos de um equilíbrio estático para um equilíbrio dinâmico organizado dos sons.

            Na filosofia, para Aristóteles, Virtus in Medium Est seria a virtude estando no meio, no equilíbrio, na média ponderada dos fatos.

            A bíblia também apresenta conceitos de equilíbrio, como no verso selecionado de provérbios 3:21: “Meu filho, guarde consigo a sensatez e o equilíbrio”. Desta forma Salomão relaciona o equilíbrio com a sensatez. Esta, por sua vez, é em II Timóteo 2 relacionada com o conhecimento da verdade e arrependimento: “(...)na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem a verdade, mas também o retorno à sensatez, a fim de que se livrem dos laços do diabo, que os prendeu para fazerem o que ele quer.” (v. 26 - grifo nosso)

            Em Amós 7:7 o Senhor se revela ao profeta como estando em cima de um muro, segurando um prumo. E diz: “Eis que eu porei o prumo no meio do meu povo Israel.” (Amós 7:8). Em Mateus 23 Jesus faz uma exortação sobre equilíbrio aos escribas e fariseus, após uma dura repreensão sobre o desprezo à justiça, misericórdia e fé: “Vocês deviam fazer estas coisas, sem omitir aquela!” (v. 23)

            Esse conceito bíblico de sensatez e equilíbrio pode ser aplicado em tudo na vida. Entretanto vamos aplicá-lo à música sacra. Num mundo polarizado como o nosso está cada vez mais nítida a diferença de pensamentos. O conservador está cada vez mais tradicionalista. E o progressista está cada vez mais liberal. Enquanto uns consideram a música adequada apenas aquela das antigas, de compositores de décadas ou séculos atrás, outros consideram música boa apenas de alguns anos para cá com cara de worship hillsong. Nada para trás disso vale. Para uns apenas o órgão é um instrumento divino. Para outros se não tiver uma banda com guitarra e bateria a música fica sem graça. Para uns uma boa poesia construída com rimas e boa prosódia é o que vale. Para outros um verso de 7 palavras repetida 11 vezes, em cima de dois ou três acordes é suficiente para “sentir” a música. E assim, segue a discórdia em muitos outros aspectos. O conflito entre gerações sempre haverá.

            Vejamos o que diz Ellen White: “Muitos querem fazer as coisas à sua maneira. Não concordam com as regras, e ficam impacientes sob a liderança de alguém. No serviço de Deus tem de haver planos bem amadurecidos. O bom senso é coisa excelente no culto do Senhor” (Evangelismo, p. 505)

            Quando se trata de música, apesar de nossas preferências, temos indicações bem claras de como proceder tanto na Bíblia, inspiração profética e manual da igreja. Porém em assuntos de gosto musical, do que consideramos o ideal, ou daquilo que gostaríamos de ouvir num culto de adoração, talvez o melhor caminho seja o meio, o equilíbrio, o bom senso, a sensatez, e sobretudo a orientação divina buscada dentro de um quarto fechado, de joelhos dobrados.

            E deixemos que o próprio Deus segure o prumo, sobre o muro, a fim de julgar as intenções de seu povo.

 

[1] Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/fisica/equilibrio-estatico-dinamico.htm

Fique conectado

Receba as novidades da igreja por e-mail
Entre em um de nossos grupos de WhatsApp, clique aqui